O homem é a obra-prima do Deus Criador aqui na terra. Foi criado à Sua imagem e semelhança, o que significa que é especial diante de toda a criação. Ao contrário dos vegetais, tem vida ativa; ao contrário dos outros animais, tem vida intencional. É capaz de agir com intencionalidade, com propósito, pode aprender a fazer coisas novas e coisas velhas de um jeito novo. Tem criatividade e pode agir com base na experiência, no planejamento, no raciocínio. Por vezes age por impulso, mas a sucessão de ações que formam sua vida, suas escolhas e o resultado de tudo o que é e faz aponta para uma forma de pensar e ver o mundo.
Como seres humanos, as pessoas agem baseadas em suas crenças e visão de mundo. Essas crenças são essenciais, pois elas norteam, dão rumo e significado para o que fazem. Por isso, existe uma disciplina, um ramo dos estudos que se aplica em discutir o que as pessoas são, o que é o mundo ao seu redor, o que é e como é possível aprender esta realidade ao redor, além de tentar desvendar o que é e como é possível ensinar, uma vez que os homens são seres que aprendem e ensinam ao mesmo tempo. Esta disciplina é a filosofia.
Os desbravadores têm uma filosofia, ou seja, tudo o que o Clube de Desbravadores faz tem um sentido, uma base, um alicerce de conceitos e princípios imutáveis que são extraídos da Palavra de Deus. Da Bíblia, e somente dela, é tirada a visão de mundo do movimento do Clube de Desbravadores. Assim, o que é feito no Clube todos os domingos, em todos os acampamentos, caminhadas, desfiles, camporis, congressos, com as unidades ou ainda individualmente em cada lar e trabalho, enfim, tudo o que é feito deve estar embasado num firme alicerce filosófico. Se essa base filosófica não for respeitada, o Clube corre o risco de se tornar um clube de aventura, de escotismo ou um simples departamento social da Igreja e nada mais. O Clube só será relevante se aprender a pensar de maneira relevante.
A filosofia tem seis áreas tradicionais em que se subdivide: a metafísica, a epistemologia, a lógica, a ética, a estética e a política. Apesar das palavras difíceis, todo líder de desbravador deve conhecê-las e entender o seu significado. Pensar e pensar com clareza de ideias, com profundidade, querer saber e ir afundo sobre aquilo que se ama é uma atitude sensata e esperada da liderança dos juvenis.
A seguir estão definidos cada um dos termos acima e se refletirá um pouco sobre o que deve ser o sentido da ação do Clube de Desbravadores.
Se um Desbravador pergunta ao seu Conselheiro: “você realmente acredita em Deus? Você nunca O viu e Ele obviamente nunca falou com você de maneira que você pudesse ouvir como eu estou falando com você…” Como ele deveria responder? Não se deve responder como as pessoas estão acostumadas a responder, automaticamente. É necessário pensar!
A palavra metafísica quer dizer “além da física”, isto é, aquilo que existe e se conhece além do que os sentidos podem captar. Não são vistos, não são tocados, não são cheirados, não são escutados e não são degustados, mas ainda sim é possível ter certeza. “Metafísica vem a ser um sistema de ideias e de teses que pretende explicar o mundo por meio de princípios gerais e abstratos.” (Antônio Teles, Introdução ao estudo de filosofia, p. 58).
A sociedade atual vive num mundo materialista, onde só se acredita no que se vê ou toca. Entretanto, a Bíblia diz que da boca do Senhor Jesus saiu as seguintes palavras: “bem aventurados os que não viram e creram” João 20:29. Isto prova, com certeza advinda da Palavra de Deus, que há uma existência além das aparências. Os Desbravadores acreditam em muito mais do que é revelado pelos sentidos e pela ciência. Falando desta questão fundamental da filosofia do Clube de Desbravadores, o teólogo e filósofo adventista George Knight pergunta: “por que as igrejas cristãs gastam milhões de dólares a cada ano em sistemas privados de educação quando os sistemas educacionais públicos estão à disposição? É devido às diferentes concepções da natureza da realidade definitiva, a existência de Deus, o papel de Deus nos assuntos humanos, e natureza e papel dos seres humanos como filhos de Deus. Homem e mulher, em seu mais profundo nível, são motivados por crenças metafísicas. Estão ansiosos por viver e morrer por estas convicções”. (George Knight, Filosofia e educação: uma introdução da perspectiva cristã, p. 18).
Logo, torna-se claro que o Clube de Desbravadores entende que o planeta Terra foi criado pelo Deus triúno, como é revelado a nós na Bíblia. (Gênesis 1 e 2).
O Clube aceita também que a sua realidade é permeada por uma guerra cósmica, chamada de Grande Conflito, como explicitada em Apocalipse 12:7 e que essa guerra alcançou o planeta Terra (Gênesis 3) e que isso levou a uma luta sem quartel, uma luta aberta e sem trincheiras, mas com lados definidos, como está descrito de maneira esquematizada e profética no livro de Daniel, sobretudo no capítulo 7, versos 21 e 25; capítulo 8, versos 9 a 12.
Os Desbravadores compreendem que essa guerra cósmica acontece também em cada coração humano, de maneira espiritual e contínua, sem tréguas. O patriarca Jó se preocupava com seus filhos, pois sabia que além das demonstrações físicas de adoração, era no coração do homem que se dava a verdadeira guerra entre o bem e o mal (Jó 1:5). É por isso que o salmista diz que deve-se esconder a Palavra no coração (Salmo 119:11), pois desta forma as pessoas estarão protegidas. Jesus ainda afirma que são os limpos de coração que verão a Deus (Mateus 5:8) e os verdadeiros vencedores em Cristo, numa Nova Aliança com Ele, terão a Lei de Deus em seus corações (Hebreus 8:10).
O Clube de Desbravadores entende a realidade que é possível sentir apenas como parte da grande realidade de Deus. O que se toca, vê, ouve, cheira e degusta, tudo tem a ver com a realidade
de Deus. Ele criou, Satanás tenta destruir e cada pessoa é chamada a escolher entre o bem o mal, entre o ódio e o amor. As palavras ditas não são apenas vocábulos da língua, são benção ou maldição, os olhares não são apenas foco visual, contemplam a Deus ou ao seu inimigo. O que se come não é apenas alimento, ou se nutre o templo do Espírito ou o templo da idolatria.
Como os seres humanos não são bons por natureza, devem reconhecer que possuem uma inclinação para o pecado (Gênesis 6:5). Com essa realidade em vista, têm que se agarrar ao único meio de salvação, Jesus. Para se agarrarem a Cristo, devem diariamente negar seu próprio coração, suas opiniões, sua natureza e o seu eu, aceitando seguir a Cristo, mesmo em meio ao sacrifício (Mateus 16:24-27).
Nada é neutro, nada é irrelevante ou pequeno na realidade do Grande Conflito. A recreação, o vestuário, o discurso, o programa, os eventos, tudo que é feito no Clube de Desbravadores deve existir para adorar a Deus.
Epistemologia
Um líder, ao instruir uma Especialidade, se depara com a seguinte pergunta de um Desbravador: “como você sabe que isto está certo?”. Um líder medíocre responderia: “porque sim!”. Um líder razoável responderia: “porque eu estudei!”. Um líder de verdade responderia: “Vamos descobrir juntos!”.
A palavra epistemologia quer dizer “estudo do conhecimento”, ou seja, é uma parte da filosofia interessada em estudar como aprender, o que aprender e se o que se aprendeu tem alguma validade, utilidade e se condiz com a realidade. Algumas pessoas, e isto não será difícil de encontrar mesmo entre os juvenis, não acreditam em mais nada, são céticos. Outros se tornam absolutamente crédulos e acabam se tornando “Maria-vai-com-as-outras”, o que é condenável biblicamente (Efésios 4:14). Alguns adotam uma postura ambígua, chamada de “agnóstico”, crer ou não crer não faz diferença, concordam com tudo e não aceitam nada. Talvez estas posturas sejam muito comuns pelo número excessivo de explicações falsas sobre tudo. É aí que o líder deve ter uma visão clara a respeito da verdade.
O que é a verdade? É possível conhecê-la? É possível transmiti-la? Se um líder tem dúvidas a respeito disso, precisa ler a Bíblia com dedicação e oração. O Clube de Desbravadores tem uma epistemologia, ele sabe o que é a verdade, como pode conhecê-la e como transmiti-la.
Em primeiro lugar, a verdade não é relativa. “A verdade é a expressão exata da realidade”, conforme ensina Gerson Pires de Araújo . A frase quer dizer que a verdade é o que a realidade é e não uma opinião do ser humano. Opinião e verdade são coisas diferentes. O que pode ser relativo é a opinião, o ponto de vista, mas jamais a verdade. Contudo, existem realidades provisórias, por exemplo, a idade, a residência, o conhecimento. Assim, a verdade, ou seja, as expressões, as imagens ou as descrições destas realidades podem mudar. Por outro lado, as realidades eternas sempre expressarão verdades eternas e imutáveis.
Outro aspecto fundamental é a questão da realidade pessoal. As pessoas são más porque estão longe de Deus. Longe fisicamente, longe volitivamente (por sua vontade), longe afetivamente e longe racionalmente. Assim, distantes da fonte da vida, estão morrendo. Contudo, essa realidade é provisória, em Cristo essa realidade pode mudar. O conhecimento da verdade e a decisão consagrada
de se aproximar da verdade podem alterar essa realidade, elevando-os a uma imagem mais apurada de Deus em si. Isto se dá através do processo de salvação, que é o mesmo processo de educação, processos que são, em última análise, o objetivo do Clube de Desbravadores.
“Restaurar no homem à imagem de seu Autor, levá-lo de novo à perfeição em que fora criado, promover o desenvolvimento do corpo, espírito e alma para que se pudesse realizar o propósito divino da sua criação – tal deveria ser a obra da redenção. Este é o objetivo da educação [do Clube dos Desbravadores], o grande objetivo da vida.” (Ellen White, Educação, p. 15).
Embora a realidade seja a base da verdade, nem todas as realidades estão à disposição. Existem coisas que são reais e muitos simplesmente não sabem e nunca saberão. Entretanto, existem realidades que se abrem às pessoas e destas pode-se extrair a verdade. Assim, o conhecimento para o Clube de Desbravadores é algo possível e desejável, pois saber a verdade é se aproximar da realidade, ensinar é conduzir os juvenis à realidade.
O currículo do Clube está repleto de conhecimentos úteis ao Desbravador, mas quais destes conhecimentos são os mais importantes? Ora, Jesus disse: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (João 14:6). Assim, o conhecimento mais importante é Jesus Cristo, a verdade eterna. Contudo, sabe-se que a Palavra de Deus é verdade. Cristo afirmou: “a Tua palavra é a verdade” (João 17:17), logo, Jesus é a verdade e o que Ele afirma também o é. Será que apenas o Novo Testamento seria verdade então? Não. Sua Lei é verdade, afirma o salmista no Salmo 119:142, bem como os escritos do Antigo Testamento, pois o salmista também afirma no Salmo 119:160 que “a Tua palavra é a verdade desde o princípio, e cada um dos Teus juízos dura para sempre”. Mas existem outras verdades? Sim. Tudo o que conduz a Cristo é verdade. Paulo diz que “o que de Deus se pode conhecer neles se manifesta, porque Deus lho manifestou. Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poder, como a sua divindade, se entendem, e claramente se veem pelas coisas que estão criadas, para que eles fiquem inescusáveis” (Romanos 1:18-20). Assim é possível perceber que a natureza criada é uma revelação de Deus e, portanto, uma verdade. Nisto encontra-se o fundamento último de como deve se usar a natureza no currículo do Clube de Desbravadores.
Pelo que foi descrito acima, é possível entender que a verdade começa com Cristo, criador, redentor e mantenedor da vida. Esta verdade pode ser encontrada em Sua palavra de maneira muito clara e inequívoca. No entanto, é possível se valer ainda desta verdade encontrada na natureza, embora em parte desfigurada pelo pecado.
“Desde que Deus é a fonte de todo o verdadeiro conhecimento, é, como temos visto, o principal objetivo da educação dirigir a mente à revelação que Ele faz de Si próprio”. (Ellen White, Educação, p. 16).
Daí o fato de estudarmos as Especialidades de natureza.
Como é possível ensinar a verdade? O Clube de Desbravadores busca na Bíblia as formas e metodologia para ensino da verdade. A seguir estão os princípios do ensino segundo nossa filosofia:
- O ensino deve ser pessoal: o método de Cristo sempre foi corpo a corpo. Ele ensinava pessoalmente a seus discípulos. Ele ensinava junto ao mar (Mateus 4:1), Ele ensinava nas sinagogas (Mateus 6:2) ou no templo (Mateus 12:35). Assim, sendo em ambiente cotidiano ou em ambiente formal, Cristo ministrava pessoalmente às pessoas. Em seu trato, Ele tinha carinho e cuidado, como pode-se ver no episódio com as crianças (Mateus 19:14; Marcos 10:14; Lucas 18:16). Mas, ao mesmo tempo em que era terno e cuidadoso, era enérgico e tinha autoridade no que falava (Mateus 7:29; Marcos 1:22).
O ensino pessoal não necessariamente era direto, pois Cristo enviava e envia seus discípulos hoje (Mateus 10:5; 28:19,20). Contudo, em Cristo, os líderes podem ser o rosto e as mãos do Salvador na vida de cada juvenil.
Hoje podemos ver esse método reproduzido em uma Unidade de Desbravadores e seu Conselheiro.
“A ilustração mais completa dos métodos de Cristo como ensinador encontra-se no Seu preparo dos doze primeiros discípulos. Sobre estes homens deviam repousar pesadas responsabilidades. Escolhera-os como homens a quem Ele poderia infundir Seu Espírito e que poderiam ficar habilitados a levar avante Sua obra na Terra, quando Ele a deixasse. A eles, mais do que a todos os outros, proporcionou as vantagens de Sua companhia. Mediante associação pessoal, produziu nestes colaboradores escolhidos a impressão dEle próprio. ‘A vida foi manifestada’, disse João, o discípulo amado, ‘e nós a vimos, e testificamos dela.’ I João 1:2.” (Ellen White, Educação, p. 84).
- O ensino deve ser prático: a ideia de dissociar teoria e prática não é típica da forma dos antigos hebreus transmitirem o conhecimento. É uma forma mais ocidental, de herança grega. A educação a que Cristo se submeteu em seu lar e a que ele ofereceu aos seus discípulos sempre foi essencialmente prática. Ensina-se e aprende-se fazendo. O grande sermão das Bem-aventuranças é mais uma descrição de atitudes de conceitos abstratos (Mateus 5,6 e 7).
Deus, em seu infinito amor, proveu lições de Sua preciosa graça através de práticas simbólicas, demonstrando ser esta uma forma superior de ensino.
Hoje podemos ver esse método reproduzido em uma Unidade de Desbravadores e seu Conselheiro.
“A verdadeira educação não consiste em forçar a instrução a um espírito não preparado e indócil. As faculdades mentais deverão ser despertadas e o interesse suscitado. E isto o método divino de ensinar havia tomado em consideração. Aquele que criou a mente e estabeleceu suas leis, providenciou para o seu desenvolvimento de acordo com aquelas leis. No lar e no santuário, mediante as coisas da natureza e da arte, no trabalho e nas festas, na construção sagrada e pedras comemorativas, por meio de métodos, ritos e símbolos inumeráveis, deu Deus a Israel lições que ilustravam Seus princípios e preservavam a memória de suas maravilhosas obras. Então, quando surgiam perguntas, a instrução que era dada impressionava o espírito e o coração”. (Ellen White, Educação, p. 41).
Cristo utilizou sistematicamente esse método ao ensinar por parábolas e extrair da vida prática os exemplos para suas instruções (Mateus 13:34 e 35). (Ex. Especialidade de Arte de contar histórias cristãs).
Além do que é chamado de teorização prática, encontra-se na Bíblia uma ênfase na prática em si, como método de aprendizagem. Jesus realizava milagres em público, enviava os discípulos para organizarem as coisas, ia com eles às sinagogas e ao templo, comia e festejava com as pessoas, enviava seus discípulos ao trabalho de cura e pregação e depois os recebia e avaliava o trabalho e, ainda, por fim, perdoou pessoalmente seus agressores.
“Ensinai as coisas fundamentais. Ensinai aquilo que é prático. Não deveis fazer grande alarde perante o mundo, dizendo o que esperais fazer, como se estivésseis a planejar algo maravilhoso. Não, certamente. Não vos orgulheis nem dos ramos de estudos que esperais ensinar, nem dos trabalhos industriais que esperais fazer; mas dizei a todo que perguntar, que tencionais fazer o melhor que possais a fim de dar a vossos estudantes [Desbravadores] um preparo físico, mental e espiritual que os habilite a serem úteis nesta vida, e os prepare para a vida futura, imortal.” (Ellen White, Conselhos aos professores, pais e estudantes, p. 205).
- O ensino deve ser contínuo: o líder não ensina apenas em ocasiões especiais, antes ele deve compreender e aceitar a perspectiva cristã de ensino contínuo. Deuteronômio 6:6-8 orienta que o ensino deve ser em todo o tempo, em todo o lugar e em todas as situações da vida.
“Quando se desperta um verdadeiro amor pela Bíblia, e o estudante [Desbravador] começa a compenetrar-se de quão vasto é o campo e quão precioso seu tesouro, desejará lançar mão de toda oportunidade para se familiarizar com a Palavra de Deus. Seu estudo não se limitará a qualquer tempo ou lugar especial. E este contínuo estudo é um dos melhores meios de cultivar amor pelas Escrituras.” (Ellen White, Conselhos aos professores, pais e estudantes, p. 463).
- O ensino deve ser progressivo: não é plano de Deus que todo o conhecimento possível entre na mente dos Líderes e Desbravadores de uma vez. A paciência, o método, a perseverança e a disciplina são atributos desejáveis da verdadeira instrução no Clube de Desbravadores. Existem mistérios do amor de Deus que não foram revelados ainda e muitos outros levarão a eternidade para se tornarem conhecidos.Ex. Classes regulares de 10 à 15 anos.
“A santidade, ou seja, a semelhança com Deus é o alvo a ser atingido. À frente do estudante existe aberta a senda de um contínuo progresso. Ele tem um objetivo a realizar, uma norma a alcançar, os quais incluem tudo que é bom, puro e nobre. Ele progredirá tão depressa, e tanto quanto for possível em cada ramo do verdadeiro conhecimento”. (Ellen White, Conselhos aos professores, pais e estudantes, p. 24).
O sábio afirmou: “Mas a vereda dos justos é como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito” (Provérbios 4:18).
Cristo, na parábola dos talentos, afirma que a fidelidade no pouco poderá levar à abundância (Mateus 25:21 e 23).
Paulo reconhecia que o conhecimento de Deus é progressivo. Desta forma aconselhou aos tessalonicenses que “assim andai, para que possais progredir cada vez mais”.(I Tess. 4:1). Em outras versões aparece a expressão “abundar”, dando o sentido de expansão, aumento paulatino.
“Deve haver contínuo esforço e constante progresso para a frente e para cima, rumo à perfeição do caráter”. (Ellen White, Conselhos aos professores, pais e estudantes, p. 365).
- O ensino deve ser equilibrado: o conceito de temperança e equilíbrio é um fundamento epistemológico do Clube de Desbravadores. A passagem bíblica que resume este conceito se encontra em Lucas 2:52: “E crescia Jesus em sabedoria, e em estatura, e em graça para com Deus e os homens”.
“A verdadeira educação significa mais do que avançar em certo curso de estudos. É muito mais do que a preparação para a vida presente. Visa o ser todo, e todo o período da existência possível ao homem. É o desenvolvimento harmônico das faculdades físicas, intelectuais e espirituais. Prepara o estudante [Desbravador] para a satisfação do serviço neste mundo, e para aquela alegria mais elevada por um mais dilatado serviço no mundo vindouro”. (Ellen White, Educação, p. 13).
Contudo, a epistemologia do Clube de Desbravadores assume como base de ensino as atividades físicas ao ar livre, pois o Clube é um programa educacional-recreativo.
- O ensino deve se apoiar nas três fontes básicas do conhecimento da verdade: a natureza não descreve o plano da salvação. A Bíblia não descreve todas as leis naturais que podemos encontrar no estudo das ciências modernas. O conhecimento da vida de Jesus não é um relato minucioso de todas as questões éticas de nosso tempo, mas de princípios eternos. Assim, o verdadeiro líder guiará seus Desbravadores pelos interessantes caminhos do conhecimento, partindo dos “lírios do campo”, como Jesus fez (Mateus 6:28), passando pelas Escrituras, como Jesus fez (Lucas 24:27; João 5:39), avançará até desvendar diante de toda a sua Unidade ou Clube a eterna e maior de todas as verdades, Jesus, o Filho de Deus, como o próprio Jesus fez ao revelar-se ao povo (Lucas 4:28).
É possível resumir graficamente a epistemologia do Clube de Desbravadores da seguinte forma:
“… A Bíblia deve ter o primeiro lugar na educação…”
“… o livro da natureza ocupa o lugar imediato em importância.”
Quanto mais as pessoas conhecem a Verdade, mais têm condições de se tornarem parecidas com Ela.
Ao se deparar, por parte de um Desbravador, com a seguinte afirmação: “Deus é amor, logo, Ele me ama. Assim, não importa o que eu faça, no final Ele me salvará!” como um líder deveria argumentar com ele?
Uma das disciplinas da filosofia que mais dá trabalho é a lógica. O que é lógica? É o estudo sobre a coerência das coisas. Ou seja, o estudo sobre as leis do pensamento e do raciocínio.
“O ideal máximo da lógica é a coerência. É coerente aquilo que está de acordo com as regras ou condições do sistema” (Antônio Teles, Introdução ao estudo de filosofia, p. 154).
Um Clube de Desbravadores precisa de algo tão profundo? Sim. Pensamento incoerente gera atitudes incoerentes. Pais e líderes precisam evitar tais atitudes com os filhos e liderados. Os que se dedicam à crítica das ações humanas jamais se sentem tão embaraçados como quando procuram agrupar e harmonizar sob uma mesma luz todos os atos dos homens, pois estes se contradizem comumente e a tal ponto que não parecem provir de um mesmo indivíduo. Acreditamos que a constância seja a qualidade mais difícil de se encontrar no homem, e a mais fácil a inconstância. Por isso precisamos estar mais aptos a dizer e viver a verdade.
Quando a incoerência da fala e da atitude dos pais e líderes se manifestam, essas questões entram na cabeça dos juvenis e eles, um dia, simplesmente acham que tudo o que o Clube/Igreja falam não passam de falácias e coisas sem sentido. Por quê? Porque tendem a ser incoerentes.
Assim, apresentamos alguns princípios lógicos sobre a forma de pensamento de um Desbravador:
- Deus valoriza e aprecia uma vida racional: “Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional” (Romanos 12:1).
- O pensamento lógico para o cristão se baseia num forte senso da presença de Deus. “O temor do Senhor é o princípio da sabedoria e o conhecimento do Santo é prudência” (Provérbios 9:10).
- O cristão deve desenvolver a lógica da causa e efeito: “Ensinai vossos filhos [Desbravadores] a raciocinar da causa para o efeito” (Ellen White, Conselhos aos professores, pais e estudantes, p. 126).
- Nem tudo o que é lógico para o mundo é para o cristão: “porque a sabedoria deste mundo é loucura diante de Deus; pois está escrito: Ele apanha os sábios na sua própria astúcia” (I Coríntios 3:19).
- A lógica do Clube de Desbravadores está baseada numa firme decisão pela obediência. O raciocínio é um dom de Deus, mas a obediência é um imperativo na lógica cristã. “De tudo o que se tem ouvido, o fim é: teme a Deus, e guarda os seus mandamentos; porque isto é o dever de todo o homem” (Provérbios 12:13).
- A lógica interna do cristão exige obediência, mas uma obediência baseada na fé. “Ora, sem fé é impossível agradar a Deus” (Hebreus 11:6).
Um desbravador indaga: “numa situação crítica, seria correto matar para sobreviver?” Quem sabe o desbravador pergunte: “numa situação crítica, uma pequena mentira salvaria a vida de alguém, o mal menor seria tolerável para se evitar um mal maior?”. Cuidado! Muitas vezes os líderes respondem aos Desbravadores o que, de fato, não fariam…
Um Desbravador perguntaria esse tipo de coisa? A verdade é que sim, pois se não fizerem estas perguntas, farão outras com o mesmo teor – o que é considerado certo ou errado em cada situação.
“A ética é o estudo dos valores morais e da conduta”. (George Knight, Filosofia e educação: uma introdução da perspectiva cristã, p. 29).
No dia a dia de atividades, o Clube se depara com muitas decisões morais e éticas para serem tomadas. Um líder deve ter um profundo senso do que Deus e Sua Igreja espera dele nesses momentos. O princípio maior que deve permear a ética do cristão é o amor. Os procedimentos morais e éticos do Clube devem partir da premissa “amar a Deus sobre todas as coisas e o próximo como a ti mesmo”. (Mateus 22: 37-40). Sem esta base, as decisões morais se basearão em sentimentos e experiências individuais e volúveis, o que acarretará numa vida de Clube incoerente, pois as situações serão tratadas de maneira desequilibrada e assimétrica, hoje de um jeito e amanhã de outro. Tudo o que for feito deve ter um profundo conteúdo ético.
Se um Desbravador roubar um objeto num acampamento, o que deve ser feito? O amor a Deus e ao Desbravador exige uma correção. Mas essa correção deve ser pública? Como ficaria o amor ao próximo? Contudo, o Desbravador, após diversas orientações, advertências e aconselhamento não se afasta do mau caminho. Como se deve proceder? Qual é o limite ético da tolerância?
Questões como essas ocorrem no dia a dia do Clube. Assim, existem juvenis sem recursos financeiros, meninos e meninas que são frutos de lares destruídos e conturbados, Desbravadores que foram abandonados ao desenvolvimento violento e sem amor. Como tratá-las? Como resolver problemas que permeiam a vida da direção do Clube? Afinal, todos são humanos.
Como a humanidade não tem uma mente perfeita “por misturar o mal com o bem, sua mente se tornou confusa, e entorpecidas suas faculdades mentais e espirituais” (Ellen White, Educação, p. 25) os líderes devem ter a humildade de admitir que precisam do conselho divino para discernir entre o bem e o mal. Devem aceitar que “aqui está a única salvaguarda à integridade individual, pureza do lar, bem-estar da sociedade ou estabilidade da nação. Por entre as perplexidades, perigos e exigências contraditórias da vida, a única segurança e regra certa é fazer o que Deus diz: “Os preceitos do Senhor são retos”. (Sal. 19:8). Novamente o Clube se encontra não com um sistema de regras (leis e preceitos), mas com um sistema de regras baseadas no amor a Deus e ao próximo, pois “destes dois mandamentos depende toda a lei e os profetas” Mateus 22:40.
“Por que não posso usar tatuagem, piercing ou um cabelo estilo punk? Eu acho bonito!”. Às vezes, muitos juvenis fazem esses questionamentos. Qual resposta eles ouvem?
Alexander Gottlieb Baumgarten (1714-1762), filósofo que foi considerado por muitos estudiosos como o “fundador” da estética como verdadeira disciplina acadêmica, disse certa vez que o belo seria a perfeição apreendida pelos sentidos. O Clube de Desbravadores não pode concordar com esta definição. Embora os sentidos humanos, principalmente a visão, possam captar o belo e é possível apreciá-lo, o belo é mais que uma sensação, é um princípio divino, pois Deus é o criador do belo.
“Como o Autor de toda a beleza, sendo Ele próprio amante do belo, Deus proveu o necessário para satisfazer em Seus filhos o amor do belo. Também providenciou para as suas necessidades sociais, para a associação amável e edificante, que tanto faz para que se cultive a simpatia e se ilumine e dulcifique a vida” (Ellen White, Educação, p. 41).
“Ele é o autor de toda a beleza, e, unicamente ao nos conformarmos com Seus ideais havemos de aproximar-nos da verdadeira norma de beleza.” “Aquele que pôs as pérolas no oceano e a ametista e o crisólito entre as rochas é um amante do belo.” (Ellen White, Ciência do Bom viver, p. 292 e 412).
O Clube de Desbravadores também é um movimento estético, pois almeja contribuir com a restauração da imagem de Deus no homem, restaurando-o à sua beleza original. Contudo, embora a beleza física seja um valor no sistema filosófico moderno, ela não é um elemento essencial no mundo de pecado. Antes, a beleza do caráter é o elemento essencial na escala de valores cristãos.
Ellen White pergunta:
“No dia em que forem ajustadas as contas de todos, experimentareis alegria ao passar em revista vossa vida, ou sentireis que a beleza do homem exterior é que foi buscada, enquanto ficou quase de todo negligenciada a beleza interior, da alma?”. (Ellen White, Testemunhos Seletos, vol. 1, p. 593).
A preferência do Clube de Desbravadores pela natureza como local e objeto de instrução está em conexão com o projeto estético de Deus.
“Deus ama o belo. Revestiu a Terra e o céu de beleza, e com alegria paternal contempla o deleite de Seus filhos nas coisas que criou. Ele deseja que circundemos nossas habitações com a beleza das coisas naturais. Quase todos os moradores do campo, se bem que pobres, poderiam ter ao redor de suas moradas um pedaço de gramado, algumas árvores de sombra, arbustos floridos, ou flores fragrantes. E, muito mais que os adornos artificiais, contribuirão para a felicidade do lar. Trarão para a vida doméstica influência amenizante, aperfeiçoadora, robustecendo o amor da Natureza, e atraindo mais os membros da família uns para os outros, e para Deus.” (Ellen White, A ciência do bom viver, p. 370).
“Como eu faço para ser Diretor(a) um dia?”. “Eu gostaria de ser um Regional, o que eu tenho que fazer?”. O que um líder deve fazer ao se deparar com essas indagações?
A política é a disciplina filosófica que trata do poder. O Clube de Desbravadores tem uma filosofia clara quanto ao mandato e exercício do poder. Assim, todo líder deve ter esses princípios desenvolvidos em sua vida, para que a compreensão filosófica deste tema normatize suas atitudes no exercício de sua liderança, autoridade e poder.
- Todo poder emana de Deus ou de sua tolerância. “Toda a alma esteja sujeita às autoridades superiores; porque não há autoridade que não venha de Deus; e as autoridades que há foram ordenadas por Deus” (Romanos 13:1). Assim, a Igreja de Deus aceita o ordenamento hierárquico como uma necessidade e uma bênção para a comunidade. Além disso, o poder eclesiástico tem uma forma correta de ser definido. Respeitam-se os talentos naturais e dons espirituais (I Coríntios 12), leva-se em consideração a experiência do evangelho (I Timóteo 3:13) e por um sistema democrático de escolha (Atos 6:3) os cargos e funções são preenchidos.
- A igreja e o Clube de Desbravadores repudia o exercício individual ou oligárquico2 do poder sobre as outras pessoas.
“Mas quando numa assembleia geral, é exercido o juízo dos irmãos reunidos de todas as partes do campo, independência e juízo particulares não devem obstinadamente ser mantidos, mas renunciados. Nunca deve um obreiro considerar virtude a persistente conservação de sua atitude de independência, contrariamente à decisão do corpo geral.“ (Ellen White, Testemunhos Seletos, vol. 3, p. 408).
O poder é para servir e não para ser servido. Jesus ensinou esta lição por preceito e exemplo (Mateus 20:27; 23:11). Ao terminar o serviço do lava pés perguntou: “compreendeis o que vos fiz?” (João 13:12).
No tratamento com o outro, a política do Clube de Desbravadores é considerar o outro mais importante que ele mesmo. “Ninguém busque o proveito próprio; antes cada um o que é de outrem”
(I Coríntios 10:24). “Nada façais por contenda ou por vanglória, mas por humildade; cada um considere os outros superiores a si mesmo” (Filipenses 2:3).
Fonte: https://www.adventistas.org/pt/desbravadores/